ESCREVER SEM PENSAR NO QUÊ





Procuro respostas inacabadas a questionamentos internos que se amontoam em meio a um turbilhão infinito de emoções constantes, cortantes e apaixonantes.



segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Até logo



Não consigo te matar. Seu sorriso escancarado que irradia luz e colore minha visão deste mundo incrédulo e cinzento, não me permite. Ele não deixa. Mas não seria justo enterrar-te no fundo de um ‘nunca mais’ quando nosso encontro me apresentou novamente àquela verdade que pulsa como um martelo acochoado dentro de mim. Não serei injusta com nenhum de nós dois. Não merecemos.

Por isso, deixo-lhe ali, naquele cantinho apertado, justo, que mesmo assim me permite te ver pela fresta entreaberta. Hoje já não me incomoda mais. Sei lidar com seu silêncio que tempos atrás soou bem alto em meus tímpanos como uma música desafinada, fora de ritmo, daquelas que nos faz perceber que está na hora de mudar de estação. Já entendi seu distanciamento, mas não reclamo, porque ele me aproximou da verdade que cegava minha retina diante do fato real, que doía.

Também pergunto-me porque nem mesmo no ápice do furacão que chegou com tudo atropelando meus sonhos e massacrando meus desejos, derrubando as possibilidades, não sinto vontade de te matar. Não creio que essa seja a solução dos problemas. Criar turbulências internas acrescidas de energias pesadas, paralisa, afoga, mata. Não gosto disso. Prefiro guardar momentos reais, juntamente com aqueles que eu mesma reguei, criei, imaginei. E hoje, rasguei.

Fecho os olhos e vejo que seu sorriso de ontem me embebedou com promessas nunca ditas, e me fez perambular por nuvens ingratas que me fizeram escorregar na realidade transcrita, exposta. Tomo consciência dessa transição. E percebo que você não teve gás para assoprar a insegurança, despistar o medo, confundindo-o em um zigue-zague de sim e não. O temor instigante o paralisou e o amputou de dar um passo ao meu lado. Você se escondeu atrás da muleta da complexidade de mundos distintos, que inclusive foi capaz de me fazer questionar se você teria mesmo razão.

Hoje enxergo que tudo não passou de falta de entrega. De permissão para navegar em mares profundos e desconhecidos. De medo, aquela palavra que eu tanto odeio. Medo. Incrível a força que ele tem. Ele veio com tamanha velocidade que estourou as bexigas coloridas que rodeavam aquele cenário montado que vivíamos. De repente, o barulho ensurdecedor da explosão sacudiu meu eu, me colocando nos eixos.

Desgarrada a você, sinto-me inteira nos trilhos tortos desse caminho incerto que é a busca pelo aconchego.

Não preciso te matar para entender que chegou a hora de seguir em frente. Meus pés que se deslocam com tranqüilidade e repletos de desejos de alcançar o futuro, intercalam-se entre si como uma gangorra faminta. Eles encontram o solo firme cheio de possibilidades inacabadas e seguem adiante. Tudo está ao meu alcance. Estendo os braços como quem sonha em tocar as estrelas.

Livre dessa pressão por respostas, ajeito minhas asas e vôo em busca de oportunidades infinitas. Nessa viagem solitária e longíqua, permaneço viva, sem a necessidade de te matar para continuar respirando. Não preciso disso. Nem você.

Porém, mesmo permanecendo vivos, ainda tenho dúvidas se nossos corpos se trombarão nesses corredores da vida. Não em troca de suores salgados e beijos molhados. Mas em encontros de almas que buscam verdades escancaradas manifestadas em formatos de arte.

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